Empreendimentos

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

CONSTANTINE (HELLBLAZER), JANOV E A FUGA DE SI MESMO.


“Um movimento corporal é um pensamento. Um pensamento também se expressa corporalmente”.

Assim afirmava Augusto Boal, diretor e dramaturgo, criador do Teatro do Oprimido. Por sua vez, o psiquiatra Artur Janov demonstrou de modo claro e manifesto que nossos traumas e conflitos emocionais igualmente se manifestam exaustivamente através de nosso corpo.
É simplesmente impressionante a explicação de Janov, que nos fala sobre as atitudes, hábitos e ações pelas quais o corpo vem expressar conflitos e dores muitas vezes ocultas de nós mesmos. Janov chama estas atitudes e reações do corpo de AÇÕES SIMBÓLICAS OU SUBSTITUTAS. Por quê? Porque SIMBOLIZAM ou SUBSTITUEM uma necessidade vital de nosso ser que se encontra reprimida, impossibilitada de se manifestar. Por exemplo, alguém que se sente incapaz de ser amado, pode compensar sua ansiedade comendo desenfreadamente. Neste caso, a comida simbolizaria o amor, ou seria uma tentativa de substituí-lo. 


Em certo tratamento, Janov descobriu que o ato de fumar sem parar era um efeito do trauma do paciente ter sido bruscamente desmamado quando pequeno. Aqui o cigarro estaria substituindo o seio da mãe. Em outro caso, um paciente descobriu que sua constante necessidade de sexo era uma forma de compensar a falta que sentia de atenção desde a infância. O sexo transformava-se neste caso em uma ação quase que desesperada cujo objetivo oculto era compensar a falta de atenção da qual ele não se sentia merecedor. Durante um tratamento, Janov até mesmo pediu a um paciente seu para conter sua constante necessidade de urinar, pois neste caso específico urinar era a forma como o corpo encontrava para fugir de dores e tensões ocultas. 

 
Conforme Janov, todas essas ações substitutas ou simbólicas são criadas através de um eu ou personalidade falsa que formamos. Esse eu falso surge como uma forma de proteção, escondendo nossa verdadeira essência para protegê-la de sensações e sentimentos dolorosos que permanecem ocultos no subconsciente.  


Conforme Janov, para se libertar dessa falsa personalidade que formamos e nos limita a vida, devemos nos permitir sentir as dores que estão escondidas, protegidas de nossa consciência pelos mecanismos de defesa mentais que criamos. Com sua Terapia Primal, Janov elaborou técnicas que visam aos poucos ir derrubando as defesas de cada paciente, revelando lembranças de traumas ocultos, até que o paciente possa se permitir sentir a dor central, o mal estar principal que está na origem de seus problemas. Com as barreiras de defesa da falsa personalidade derrubadas, o paciente pode então sentir a sua dor primal, expressá-la,  liberá-la, e se permitir finalmente ser ele mesmo. Uma explicação muito clara sobre este procedimento da Terapia Primal de Janov pode ser encontrada na obra O Resgate do Corpo Perdido

 
Podemos encontrar um exemplo formidável da ação simbólica ou substituta de Janov na história em quadrinhos "Anti-Horário", da revista Hellblazer nº 116 e 117.  Hellblazer traz as histórias do famoso personagem John Constantine, uma espécie de mago muito diferente, que vestindo na maioria das vezes um sobretudo, faz extremo uso de malícia e inteligência para vencer seus inimigos ou solucionar problemas difíceis.  Na história em questão, os mortos de um cemitério saem pela cidade a assombrar os vivos. 

 
John Constantine não tem a mínima ideia do porque isto está acontecendo. Usando o seu dom da sincronicidade (estar no lugar certo, na hora certa), ele acaba desvendando o mistério. Tudo tem a ver com certo ritual (muito bem explicado na história), e no hábito de um homem correr toda noite, circundando em seu trajeto o cemitério local. Aqui a história revela de forma magnífica, dentro do seu tema sobrenatural, um fato científico comprovado por Janov. Pois o que leva o personagem a correr toda a noite não é exatamente sua preocupação com a saúde e com forma física. O que o leva a correr é nada mais nada menos que um trauma, um sentimento doloroso de rejeição que ele não pode suportar. E toda a sua dolorosa amargura acaba se transformando em uma corrida constante e sem fim. 

 
No fim da história o mago Constantine consegue por fim àquela situação, fazendo o homem abandonar a sua corrida, substituto de sua carência não resolvida, fuga de sua dor interior. “Você precisa parar de correr”, diz o mago Constantine. “Olha, tem uma espécie de problema. É sobre sua esposa, né?” 


Constantine diz para o homem que ele deve voltar para casa e perguntar à esposa porque ela nunca foi ao funeral do pai. Ou seja, a falta de atenção da esposa não era porque ela não amasse o marido. Tudo estava relacionado ao trauma dela com o pai já falecido. A solução estaria em o homem falar com ela sobre esse problema e ajudá-la a superá-lo. A verdade era algo aparentemente simples. Sua esposa apenas não lhe dava atenção porque estava presa ao seu próprio trauma, à sua própria dor. Mas o falso eu que o homem formou em sua vida não o deixaria facilmente procurar sua esposa e buscar sua afeição, pois estava fortemente programado a fugir de toda tentativa de ser amado, o que, na lógica do seu trauma, o protegeria da dor da rejeição. Assim sendo, simples explicações não seriam suficientes para que o homem prontamente deixasse de lado aquela corrida e voltasse para casa, para a esposa, onde pairava seu maior medo: a rejeição. Para convencê-lo completamente, Constantine não precisou de uma prolongada sessão de Terapia Primal, como o faria Janov. O mago simplesmente hipnotizou o homem durante dez minutos. Como consequência, o corpo deste último reagiu, tentando ainda escapar e se autoproteger  do  possível sofrimento que o estaria esperando,se enfrentasse de frente seus problemas.  O homem urinou-se duas vezes durante este processo. Este fato é muito interessante, pois lembra a experiência de Janov, quando este pediu a um paciente que não urinasse, já que esta reação física era uma forma do corpo continuar fugindo das lembranças e da dor do trauma. Enfim, na história, após o hipnotismo, o homem retorna para sua esposa. “Eu o levei ao fim de sua interminável maratona”, diz o John Constantine. “O resto depende dele.” 
Caso você queira conferir esta história "Anti-Horário" na íntegra, transfira os quadrinhos para o seu computador, acessando  logo abaixo:  

ANTI-HORÁRIO - PARTE UM.

Se quiser saber mais detalhes sobre o doutor Janov e seu espantoso trabalho da Terapia Primal, acesse abaixo:

ACESSE CLICANDO AQUI! NA JANELA QUE ABRIR, CLIQUE ACIMA, À DIREITA, ONDE DIZ "SKIP THIS ADS"!


3 comentários:

  1. Com certeza, a explicação de Janov sobre como funciona a psicologia e as emoções do ser humano é fantástica. Todos deveriam conhecer.

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  2. A ansiedade se rebelando com crises de pânico, agorafobia e tantas coisas mais despertas, onde a genética dá um empurrão e o meio social fornece a "ladeira abaixo", também troca o antigo aconchego maternal na hora da alimentação pelo apetite em excesso compulsivo.

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