A verdade é que a renovação da
energia é o coração de tudo que importa.
Tony Scwartz
Após a série de 06 posts "Equilibrando a sua Energia no Tempo", voltamos com mais informações preciosas do conferencista e escritor Tony Scwartz. Aqui vamos aprender que não basta nos focarmos apenas em uma virtude, como a determinação, a coragem, ou o que for, se não usarmos igualmente uma outra virtude diferente para equilibrar nossa ação. Sem este equilíbrio sobre o qual Tony nos fala, estaremos destinados sempre a esgotar a nossa energia no tempo, e a falhar em nossos propósitos.
O texto abaixo for retirado de uma palestra de Tony Scwartz. Você também tem a opção de ouvir a palestra em sua versão áudio em português, logo abaixo. Mas não deixe de assistir outro áudio e um vídeo importantes que estão também neste post.
OPÇÃO: PARA OUVIR ESTE POST EM ÁUDIO, CLIQUE NO PLAYER ABAIXO.
O capitalismo de livre mercado tem nos gritado como uma mãe neurótica e enlouquecida: Faça mais rápido! Trabalhe mais! Mais e mais!
Quadro de Goya. Deus grego Cronos,
representação do tempo devorador.
A questão é que o mundo possui
recursos finitos e a nossa demanda é cada vez maior, superando a nossa
capacidade.
E se as tarefas tendem a
aumentar, você acredita que sua capacidade também vai aumentar infinitamente
para cumprir todos os compromissos?
Nos encontramos hoje em uma crise
de energia. Existe uma crise energética que se relaciona aos recursos naturais
do planeta. Contudo, também há uma crise de energia ocorrendo dentro de nós.
A verdade é que a forma com que
trabalhamos não está funcionando. Precisamos de algo novo, de um novo
paradigma. Precisamos aprender a gerir a nossa energia ao invés do tempo.
A boa notícia é que a energia, ao
contrário do tempo, está dentro de você, podendo ser expandida e renovada, ou
seja, usada de modo mais eficiente.
O sistema humano precisa de
quatro tipos diferentes de energia para executar o seu melhor.
A primeira fonte de energia é o
físico – a quantidade de energia que você possui.
A segunda fonte de energia é o
emocional – a qualidade da sua energia. O que você sente influencia diretamente
a qualidade do que você executa.
A terceira fonte de energia é o
mental – este é o foco de sua energia.
A quarta fonte de energia é a do
espírito humano – sua ativação se dá quando você faz algo que tem um profundo
propósito ou sentido para o seu ser.
Em outras palavras, é necessário
uma aldeia, uma vila inteira interna para executarmos nossas vidas.
A questão é como aprender a gerir
a nossa energia de modo mais eficaz?
Para isto não há uma resposta
simples. A resposta está na nossa capacidade de gerir certas forças. Este
conceito vêm dos estóicos, e se chama Anacolouthia. Significa o mútuo
inter-relacionamento entre as virtudes. Nenhuma virtude é uma virtude apenas
sozinha, por si mesma. Ela sempre precisa de uma outra para complementá-la.
Honestidade ou sinceridade sem
compaixão é crueldade.
Tenacidade ou perseverança sem
flexibilidade é rigidez, paralisia.
Coragem sem prudência é
imprudência ou estupidez.
O problema é que no desespero nos
agarramos apenas a um desses elementos, nos lançamos em uma fome desesperada
por respostas. Somos obrigados a agir assim devido a necessidade de segurança
em um mundo perigoso. Queremos saber uma coisa ou outra, o certo ou o errado.
Por isto vamos olhar como gerir
melhor as quatro dimensões de nossa energia, levando em conta que é necessário
equilibrar a dualidade das virtudes.
Vamos começar com o nível físico.
A maioria de nós vive o mito de
que devemos a cada ano operar como computadores de alta velocidade
continuamente durante longos períodos de tempo, executando vários programas ao
mesmo tempo.
Contudo, o ser humano está
projetado para se mover entre o gasto e a renovação da energia. Nossa
frequência cardíaca desce ou sobe durante o dia, dependendo da demanda. O mesmo
é verdade para a nossa pressão arterial. Nossas ondas cerebrais estão
destinadas a moverem-se entre uma alta frequência de atividade elétrica durante
o dia e uma frequência menor à noite, para que você seja capaz de dormir. Os
músculos estão destinados a se contraírem em face da demanda, e depois relaxar.
Se isto não acontece você tem dor de pescoço e dor nas costas. Chamamos isto de
repercussão estrutural, mas na verdade é um fracasso na gestão da sua energia.
Precisamos de uma nova visão. Temos cometido o erro de valorizar acima de tudo
o gasto de energia, e subestimamos a demanda.
A verdade é que a renovação da
energia é o coração de tudo que importa. Grandes atletas compreendem
intuitivamente, instintivamente, como renovar a sua energia para alcançar um
alto desempenho ou performance sustentável. O que um atleta faz quando entende
isto é chamado de periodização, que é a gestão entre as relações de trabalho e
descanso. O atleta entende que a renovação de energia é tão importante quanto o
gasto de energia. Temos que aprender a nos mover de forma eficaz entre o gasto
e a renovação de energia. Quanto mais você gasta energia de forma intensa e
focada, compensando-a posteriormente com uma profunda renovação, mais saudável,
poderoso e eficaz você irá se tornar.
Agora vamos falar sobre equilibrar
as virtudes na gestão de energia. Vamos
falar sobre a nossa confiança e a nossa humildade.
Acreditamos que a certeza é poder e que sermos
vulneráveis nos torna fracos. Contudo, o que fazemos muitas vezes é criar uma
falsa confiança para esconder nossos próprios medos e fraquezas. Esta falsa
confiança não possuí o equilíbrio da humildade e se torna arrogância, uma
exagerada autoestima. A verdade é que a força em demasia torna-se fraqueza.
Reconhecer a nossa fraqueza torna-se uma força. Reconhecendo nossas próprias
falhas, nos abrimos para mais aprendizagem e mais crescimento. Aprendemos a nos
reconectar com os outros. Reconhecer nossas falhas é um portal para nos
reconectarmos com os outros. A humildade é uma palavra grega que significa
aterrado.
Na dimensão mental, usamos o lado
esquerdo do nosso cérebro de modo analítico e racional e fazemos uma suposição
mítica de que a criatividade é algo genético, algo mágico que não pode ser
ensinado. Precisamos urgentemente da criatividade em nosso mundo atual;
precisamos de respostas para os problemas que enfrentamos. A verdade é que a
criatividade emerge do cérebro inteiro e pode sim ser ensinada de forma
sistemática. Por isto é bom termos crescido aprendendo a desenvolver o nosso
cérebro esquerdo. Contudo, temos subestimado o cérebro direito, que é
intuitivo, imaginativo, e talvez, acima de tudo, tem a capacidade de ser o
sistema integrativo que tanto precisamos para simplificar o nosso mundo.
Precisamos aprender a usar estes dois hemisférios juntos. A criatividade é um
movimento que emerge ao longo de certos estágios em que a dominância do cérebro
esquerdo racional se altera para o direito intuitivo. Isto torna possível construir
sistematicamente um processo pelo qual poderemos acessar as áreas mais
profundas e criativas de nosso ser.
Finalmente, há um dizer sobre a
dualidade das virtudes que se relaciona ao campo espiritual de energia. A
energia espiritual é aquela derivada da experiência de um grande senso de
propósito. Quando algo realmente lhe importa, você será mais persistente e
enfrentará os obstáculos com uma força extra. Você será guiado por uma imagem
intensamente persuasiva que sempre aponta para a sua missão. O problema é que
mais uma vez temos sobrevalorizado uma virtude em detrimento de outra, fazendo
um desserviço a nós mesmos. Adotamos o mito de que servir os outros é o maior
dos produtos, e que às vezes devemos fazer isto, excluindo-nos e descuidando de
nós mesmos. A realidade é que se você não cuidar de você mesmo, você não poderá
cuidar dos outros. Isto é óbvio. Se você está em um avião ao lado do seu filho
e há um acidente que provoca falta de ar, dizem que o movimento certo é pegar a
máscara de oxigênio e colocar em seu próprio filho. Contudo, o movimento certo
é pegar a máscara de oxigênio e colocar em você mesmo.
Precisamos encontrar uma maneira
de equilibrar o cuidar dos outros com o cuidar de nós mesmos. Compaixão em
excesso se torna fadiga e causa nossa auto-destruição.
Trecho do filme Jesus Cristo Superstar.
Jesus - aprendendo a ser "egoísta" para amar.
Devemos aprender, acima de tudo,
a amar a nós mesmos. Amar a nós mesmos não significa apenas amar o melhor de
nós, ou amar o melhor que aspiramos ser, mas significa também amar a parte de
nós que fez menos pontos, amar e perdoar a parte que tendemos negar como algo
inaceitável.
(É como no poema "Notícias Amorosas", de Carlos Drummond. O poema diz que devemos "... amar a nossa falta mesmo de amor, e na secura nossa, amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita." Ou seja, não é negando ou julgando nossas fraquezas, que vamos superá-las. Poderá ouvir o poema completo no player abaixo. Dan Tell)
É um paradoxo que para viver
precisemos nos esforçar mais e igualmente nos esforçar menos. Contudo, a
verdade é que quando aprendermos a descansar com eficiência, renovando nossa
energia, poderemos realmente fazer mais. Será assim que conseguiremos criar
ondas em nossa vida, capazes de alterar a nossa realidade.
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