Empreendimentos

sábado, 22 de junho de 2013

CHI KUNG - COMANDANDO A ENERGIA DA VIDA



 (Assista um vídeo sobre Chi Kung no final deste post!)


Aqui venho relatar alguns pontos importantes da minha experiência com esta prática conhecida como Qi Gong (lê-se Tchi-kun) ou Chi Kung, em sua variante do sistema Easy Tao (Tao Fácil), que me foi apresentada em Porto Alegre, RS, pelo Mestre Wu Guang Jie (Richard), fundador do sistema Easy TAO®, presente na Europa, Antilhas e América do Sul.

Chamou-me a atenção uma afirmação de Richard (seu nome ocidental). Ele contou-nos que aprender a sentir e a manipular a assim chamada energia vital para nosso benefício é bem mais simples do que muitos podem acreditar no início. Segundo aproximadamente suas palavras, alguns alunos perguntam a seus instrutores: “Quando vou começar a sentir a energia?”, e alguns falsos mestres respondem: “Depende. Talvez venha a sentir a energia daqui a uma semana, ou um mês, ou um ano, ou talvez nunca." O que na verdade isto significa? Que o referido “mestre” simplesmente não sabe o caminho. 

Eu concluí que a essência do Chi Kung está em aprender a sentir e a conduzir a energia vital para o nosso equilíbrio e saúde, e para o desenvolvimento e o despertar de nossas capacidades naturais. Chi significa energia e kung significa arte ou trabalho. Uma interpretação livre do termo poderia ser “a arte de conduzir e utilizar eficientemente (ou sabiamente) a energia”. 

Em seu curso, Richard utilizou exemplos práticos, como por exemplo, o exercício “Expulsando as 100 mil doenças”, demonstrando a necessidade de localizarmos as tensões ou bloqueios da energia em nosso corpo, e liberá-los.   

Admirável foram as explicações sobre o essencial significado das forças duais que existem em nosso universo.  Devo dizer que nunca em todas as minhas pesquisas e estudos anteriores eu havia compreendido tão bem o significado da força positiva e negativa da natureza, o feminino e masculino cósmico, o afirmar e o negar, ou, em outras palavras, a necessidade do equilíbrio entre o fazer e o não fazer, entre a tensão e o relaxamento, o descanso e a ação, ou ainda, como é denominado mais tradicionalmente no oriente, o YING E O YANG. 



Em toda ação, é necessário certa passividade, e em todo descanso, é necessário uma certa ação. Assim, ying e yang não apenas se complementam, como um contém o outro. A compreensão disso é muito importante, já que no Chi Kung vamos trabalhar tanto com a energia positiva (yang) quanto com a negativa (ying).

Para que o aluno tenha uma percepção mais intensa da energia, o Chi Kung utiliza o movimento e a ação, unindo-o estes elementos à intenção e à imaginação, e também à respiração. A prática de todos estes elementos em conjunto torna mais fácil sentirmos o chi.  Para exemplificar isto, Richard fez uma demonstração, através de um pequeno exercício. Primeiramente, deveríamos imaginar que estávamos colhendo a maçã de uma árvore, sem expressar nenhum movimento. Depois, novamente imaginávamos a mesma ação, contudo, desta vez movimentando o corpo, erguendo a mão e colhendo a maça imaginária. O resultado deste exercício: a presença da maça se torna ainda mais palpável quando o praticante atuar também com o corpo.

Geralmente a respiração é utilizada no Chi Kung como um meio de concentração e também como um auxiliar para a ação e o movimento. Contudo, Richard alertou que seria melhor não a usarmos pelo menos no início, pois existia o perigo de criarmos tensões no corpo devido a uma urgência ou ansiedade de utilizar este recurso. Contudo, à medida que o aluno se acostuma a sentir a energia e a relaxar os pontos de tensões no  seu corpo, ele já estará mais apto a usar sua respiração para auxiliá-lo.

Nos vários exercícios que fizemos para movimentar a energia, utilizando movimento e imaginação, senti que tinha um grande destaque e importância a imagem da árvore. Realizamos várias atividades que tinham como base esta ideia. Encostávamos-nos a uma árvore imaginária, fazendo movimentos em relação à ela. Também devíamos nos sentir como a própria árvore; realizávamos uma série de movimentos tendo como base a sensação de que éramos este elemento da natureza.  Os braços movimentam-se como os ramos das árvores ao vento. Os pés tem uma forte ligação com a terra, onde penetram as raízes. Neste trabalho de abraçar uma árvore ou sentir-se como uma árvore, busca-se o contato direto com as duas conexões principais da energia (o yang, positivo, que sugere a ação, e vem do céu, e o ying, negativo, que acolhe, e vem da terra). 

Durante as atividades, Richard auxiliava, orientando-nos como deveríamos movimentar partes do corpo, ou em que posições mantê-lo durante o movimento, para que os canais de passagem da energia não fossem interrompidos ou bloqueados. 

E assim, por meio de um trabalho regular com vários elementos, unindo a ação com imagens - inclusive a ideia da árvore - seguindo  orientações de como posicionar partes o corpo para não bloquear a energia, fazendo-se  consciente das tensões para desfazê-las, vamos sendo guiados a perceber o chi e a trabalhar sobre ele.

Outro ponto essencial do curso que eu não poderia deixar de citar é o trabalho para o equilíbrio interno e para a defesa energética do nosso corpo. 

Richard demonstrou como podemos utilizar para esta finalidade certos pontos de entrada e absorção da energia presentes na palma de nossa mão. Após o aluno aprender a sentir e deslocar o chi, ele poderá retirar excessos de energia do corpo, ou ao contrário, concentrar em um órgão ou região enfraquecida mais energia. Para isto, realiza-se um movimento espiral da mão em determinada ponto do corpo, partindo do centro para a periferia, assim deslocando e retirando a energia presente naquela região. Ou, ao contrário, o aluno poderá iniciar o movimento em espiral da mão partindo da periferia para um ponto central e específico do corpo, deslocando e concentrando a energia ou chi naquele local. 

A partir da expansão do movimento em espiral da mão, sensações emocionais desconfortáveis, ou nocivas, como medo, ódio, podem ser deslocadas de regiões do corpo como o peito e transformadas, reaproveitadas, transformando-se em força para os ossos. As energias e sensações nocivas também podem ser lançadas para o sol ou para a lava no centro da terra. 

Na sequencia do trabalho com a energia, aprendemos que o princípio da utilização do chi para uma luta marcial ou para equilibrar ou curar o corpo é o mesmo, mudando apenas o enfoque. Tudo depende da nossa intenção e de como direcionamos o chi.  

Por exemplo, ao se defender de um golpe com o braço, manifestamos o chi ou energia para fora, para o exterior. Contudo, este mesmo movimento pode ser invertido, projetando ou conduzindo a energia para o interior, protegendo algum órgão ou reforçando-o. Richard nos conduziu em alguns exercícios em duplas, onde nós interagimos, com golpes e movimentação, que tinham alguns objetivos determinados, como, por exemplo, utilizar a energia sabiamente, adquirir reflexos e desenvolver as duas áreas do cérebro, fazendo-as agir em conjunto, com movimentos que exigiam atenção e a ação paralela de ambos os lados do corpo. Tivemos a demonstração de como deslocar ou derrubar um “oponente” sem esforço, utilizando o próprio movimento do outro para derrubá-lo. Da forma semelhante, explicou Richard, é possível se libertar de sensações ou energias negativas, não resistindo a elas exatamente, mas deixando-as fazerem se percurso e ajudando-as a percorrer nosso sistema, conduzindo-as para fora do corpo em seguida. Para uma sensação desagradável ou energia negativa que se agarra com muita força ao nosso organismo, Richard recomendou que utilizássemos a imagem e a ideia da árvore, com suas raízes cravando-se profundamente no solo. Assim, criando em nosso corpo um fluxo de energia ying (negativa), deslocaríamos imediatamente o que estaria nos perturbando para dentro da terra.



Nos dois dias de curso, foram dados muitos exercícios e movimentos, dos quais admito que não foi possível lembrar todos. O interessante disto, porém, foi o que Richard nos contou: “O mais importante de tudo é a intenção e a compreensão de como trabalhar ou movimentar a energia”. Assim, mesmo que um movimento não ocorra exatamente como foi demonstrado, se a intenção estiver correta, a energia irá agir. Simplificar é o essencial. Desconfio que este foi o motivo principal pelo qual Richard batizou seu sistema de Easy Tao (Tao Fácil).

Tive mais de uma experiência que comprova a eficácia do método. Contarei agora uma delas. Havia dormido até tarde e acordei sentindo certo mal estar. Ainda sonolento, lembrei-me do Chi Kung e fiz alguns movimentos com os braços e mãos, imaginando que a energia nociva era retirada do meu corpo e lançada na direção do sol além do meu quarto. Depois dormi novamente. Sonhei que estava deitado de costas para o alto e alguém fazia aplicações de energia em mim com as mãos. No sonho, algo escuro saiu de meu corpo e afundou no chão, até mergulhar na lava, no fundo da terra. Acordei me sentindo melhor. 

Outra pessoa que participou do curso contou-me que também aplicou com sucesso algumas técnicas. Ela sentia-se cansada e com um mal estar. Em seu local de trabalho, sentou-se em uma cadeira e imaginou as raízes da árvore afundando na terra. Conseguiu perceber que algo pesado e negativo realmente saiu dela, descendo por sua coluna, na direção do solo.  

Pelo que percebi, todo o trabalho do Chi Kung em torno de imagens – principalmente a da  árvore – é de vital importância, pois ensina o aluno a alcançar o equilíbrio de si, auxiliando-o na integração entre o movimento do corpo, a ação e a percepção da própria energia. Entre outros aspectos, a imagem da árvore permite ao praticante se conectar tanto ao chi do céu quanto ao chi da terra, e assim buscar o equilíbrio entre estas duas forças, tanto na prática, quanto em seu dia a dia. 



Neste momento lembro do poeta e teatrólogo francês Antonin Artaud, cujas ideias sobre o teatro exigiam que o homem alcançasse um corpo novo, livre de doenças e de reações falsas,  mecânicas. No fim de sua vida Artaud representou este corpo liberto do homem em um poema utilizando a imagem de uma árvore. Acredito ser pertinente finalizar este post com alguns trechos do seu texto. 

                     Saiba mais sobre Antonin Artaud, clicando aqui!

O Homem-Árvore
(Carta a Pierre Loeb)
Antonin Artaud
O tempo em que o homem era uma árvore sem órgãos nem função,
mas de vontade
e árvore de vontade que anda,
voltará.
Existiu, e voltará.
Porque a grande mentira foi fazer do homem um organismo,
ingestão, assimilação,
incubação, excreção,
o que existia criou toda uma ordem de funções latentes e que escapam
ao domínio da vontade decisora,
a vontade que em cada instante decide de si;
porque assim era a árvore humana que anda,
uma vontade que decide a cada instante de si,
sem funções ocultas, subjacentes, que o inconsciente rege.
(...)
Quero dizer alguns homens.
Animais sem vontade nem pensamento próprio,
ou seja, sem dor própria,
que em si não aceitam vontade de uma dor própria
e para forma de viver mais não encontraram que falsificar a humanidade.
E da árvore-corpo, mas vontade pura que éramos,
fizeram este alambique de merda,
(...)
causa de peste e de todas as doenças
(...)
Um dia o homem era virulento,
só era nervos elétricos,
chamas de um fósforo perpetuamente aceso,
mas isto passou à fábula porque os animais lá nasceram,
(...)
e a vida mágica do homem caiu,
(...)
ARTAUD, Antonin. Eu, Antonin Artaud. Lisboa: Hiena Editora, 1988, p. 105-110.

ANEXO:

Richard explicou no curso que a imitação de movimentos baseados em animais tem como objetivo potencializar a energia destes no corpo do praticante, gerando diversos benefícios, conforme a espécie escolhida. Por exemplo, uma cobra auxiliaria na cura de doenças ligadas a sexualidade; a imitação de um urso geraria força e confiança... Abaixo segue um vídeo com movimentos de animais, com o praticante de Chi Kung, Wu Dang.  




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